O Over Metal
teve a oportunidade de entrevistar a banda Hicsos numa conversa on line com
Marcelo Ledd, Avito e Rossato.
Confira mais uma ótima entrevista com uma importante banda do Metal Nacional.
Hicsos é:
Marco Anvito
( Bass & Vocal ),
Antônio
Sabba ( Guitar ),
Celso
Rossatto ( Guitar ),
Marcelo Ledd
( Drums )
Filipe Lima (F.L.) - Obrigado por atender
ao Over Metal.
Bom, duas décadas na estrada, o que foi
extremamente difícil superar e o que foi/é extremamente prazeroso para o
Hicsos?
Marcelo Ledd: Sempre tem coisas bem
difíceis durante tanto tempo na estrada, como o lado financeiro, por exemplo,
mas também o respeito dos produtores que acham que sua banda tem que ir tocar
por amor e eles ganharem dinheiro com isso. Mas o que é extremamente prazeroso
é subir em um palco e travar contato com os fãs, poder tocar em vários lugares,
poder gravar nossa musica, isso é muito prazeroso pra mim.
Anvito: Difícil é fazer Heavy Metal no
Brasil. Você tem que trabalhar dividir seu tempo com a banda e lutar por um
sonho. Prazer sempre é levar nosso som pra todos os lugares, ouvir elogios e
reconhecimento do público, estar em cima do palco e principalmente estar com os
amigos de tantos anos no Hicsos fazendo muito barulho.
F.L. - A mistura Thrash/Hardcore mostra que
flui muito do que vocês escutam e curtem. Quais são as grandes bandas/álbuns
que foram e são referências e influência no trampo do Hicsos ao longo dessas
duas décadas?
Marcelo Ledd: Na minha parte o que me
influência esta dentro desse contexto do metal e hardcore, como Anthrax,
Agnostic Front, Ratos de Porão, Venom, mas também tem Led Zeppelin, The Who,
Black Sabbath, Rock Progressivo da década de 1970 e outras coisas brasileiras
que nem tem nada a ver com rock. Álbuns como Among the Living e Brasil
freqüentam meu toca disco até hoje com constancia.
Anvito: Minhas influências são: Iron
Maiden, Slayer, Anthrax, Exodus, Testament e também curto as coisas mais
tradicionais como: Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath e etc... Acho que
no Hicsos procuramos sempre lapidar as músicas dentro do estúdio com todos
juntos. Um traz o esqueleto e depois cada um coloca sua idéia, assim temos esse
resultado que me agrada muito.
F.L. - Hicsos faz parte de um grupo pequeno
de bandas com origem no Rio de Janeiro que tem mais de 20 anos de atividade na
cena underground, ao que se deve isso?
Marcelo Ledd: Acho que as oportunidades
não surgiram como se esperava na década de 90 e ficou esse hiato na cena
carioca, a maioria das bandas que começaram junto com o Hicsos acabou no meio
da década de 1990 e alguns voltaram recentemente nos anos 2000, mas o Hicso
sempre acreditou na própria musica e mesmo trocando de integrantes diversas
vezes se manteve na estrada aproveitando todas as oportunidades que surgiam o
tesão de fazer esse som vai nos levar tocando até estarmos mortos.
Anvito: Acho que nós gostamos demais do
que fazemos e conseguimos de uma maneira ou outra separar os problemas externos
da vontade de fazer Metal. A amizade dos integrantes também conta muito. E
acima de tudo temos muito tesão em fazer isso tudo. Acredito que só vamos parar
quando o corpo não nos deixar mais fazer.
F.L. - Como surgiu e se concretizou o
contrato com a Laser Company?
Marcelo Ledd: Mandamos nosso material
pra eles há algum tempo, eles já conheciam a banda através do álbum anterior e
depois de algumas conversas, fechamos o contrato.
Rossatto: Cheguei ao final das
conversações com a "Laser Company", mas deu para vivenciar toda a
seriedade e profissionalismo que é fazer parte de algo "maior". Eu já
tive a oportunidade de vivenciar essas coisas quando trabalhei com o baterista
Garry King, (Joe Lyn Turner e Achillea), e comparando tudo o que presenciei,
vejo que a "Laser Company" viu e sentiu essa seriedade e
profissionalismo na música do Hicsos e nos integrantes, principalmente na sua
vontade de querer fazer as coisas acontecerem. Como diz o ditado: "Sorte é
estar preparado quando a oportunidade chegar." (B. Disraeli)
F.L. - Fale do processo de gravação do novo
álbum ”Circle Of Violence“!
Marcelo Ledd: Nós utilizamos o HCS
Estúdio no Rio de Janeiro para gravar toda a parte instrumental, batera
guitarras, baixo, etc. Depois fomos para São Paulo e concluímos o trabalho com
a produção do Marcelo Pompeu e do Heros Trench no Mr. Som Studio.
F.L. - Para a realização do Circle of
Violence como se desenrolou o processo de composição das músicas?
Marcelo Ledd: Ainda com o Nilmon nós
compusemos todo o álbum e as letras são muito divididas, cada um escreve sobre
seus temas preferidos, isso dá uma diversidade lírica à banda. Eu gosto muito
de escrever sobre política e coisas do cotidiano urbano.
Anvito: Foi muito intenso esse processo
de composição, o Nilmon gravava algumas coisas em casa e mandava por e-mail,
daí ouvíamos e tentávamos fazer algo cada um na sua casa. Quando chegava ao
estúdio começava a lapidação por todos. Teve 2 músicas bem curiosas que foram
Destruction e Burn in Hell. Essas o Nilmon mandou pra mim o esqueleto delas e
na hora eu curti demais o jeito que estavam, sentei na frente do computador
escutando a musica e fiz as letras das duas, gravei um teste com voz e mandei
de volta pra todos. Todos gostaram e elas tiveram pequenas mudanças na forma
original. As outras músicas foram composições que eu, Antônio e Marcelo já
tínhamos em mente e colocamos para todos darem suas opiniões. Foi muito
prazeroso todo processo de gravação.
F.L. - O Metal sempre nos presenteou com
grandes mestres, mas alguns já estão velhos, outros enfrentando problemas com
saúde e infelizmente alguns nos deixando como Jeff Hanneman. Quais são os
grandes ícones e mestres respeitados por vocês? Explique o por quê?
Marcelo Ledd: Isso é muito estranho,
não só na musica, mas na vida, porque quanto mais velho você vai ficando parece
que as pessoas vão morrendo ao seu redor. Isso também acontece com os ídolos da
musica, por exemplo o Lemmy, porra o cara esta velho e doente, acredito que nem
vai demorar muito para ele enfrentar a morte infelizmente. Teve o Dio, que foi
uma perda sinistra. O próprio Hanneman. Quando éramos jovens isso nem passava
pela nossa cabeça que pudesse acontecer. Porém estamos falando de musica e
esses caras mesmo depois de mortos continuarão vivos pelo trabalho que ficar eu
respeito muito os meus ídolos como Jimmy Page que faz muita coisa fora da
musica, o próprio Lemmy que viveu sua carreira de forma honesta e simples. Mas
é triste saber que daqui a pouco bandas como Judas, Iron, Saxon, Motorhead,
Slayer, Anthrax, entre outras vão parar as atividades. Veja os caras do Blues,
que foi onde tudo começou, praticamente não tem mais nenhum desbravador do
estilo vivo, e os pais do rock também já estão no final, como o Chuck Berry que
já não tem mais o mesmo pique no shows, o legal disso é que a idade do público
esta aumentando junto com a idade dos músicos, quando eu era bem jovem ,meu avô
nunca ouviria um som, mas hoje já tem gente na faixa dos 70 anos que curte som
desde novo, isso é foda.
Anvito: Infelizmente isso faz parte da
vida, nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Sentimos muito quando é uma
pessoa querida ou um ídolo. Fiquei triste demais com a morte do Dio, era um dos
melhores vocalistas do mundo em minha opinião. Sou um dos poucos que gosta mais
do Black Sabbath com Dio do que com Ozzy, mas gosto e respeito demais o Ozzy.
Há pouco tempo perdemos o Jeff Hanneman, isso foi pra mim uma perda muito
triste também, afinal Slayer é uma das minhas bandas favoritas e marcaram muito
minha adolescência. O Iron Maiden, por exemplo, a galera está velhinha, mas
cheio de disposição no palco, admiro isso, fazem um show energético até hoje.
F.L. - Citem álbuns considerados marcantes
na história do metal
Marcelo Ledd: Pra mim, Among the Living
(Anthrax), todos os discos do Led Zeppelin, Persistence of Time (Anthrax),
Brasil e Cada dia Mais Sujo e Agressivo (RDP), Mass Illusion e Ties of Blood
(Korzus), Arise e Chaos AD (Sepultura), The Number of the Beast (Iron), Angel
Wicth (Angel wicth),Gottverlassen (The Mist) e por ai vai,tem mais albuns de
bandas Thrash também como the Gathering do Testament... etc.
Anvito: Led Zeppelin, The Song Remains
the Same, Led Zeppelin IV ( Led Zeppelin ), Machine Head, Burn, Storm Bringer e
Perfect Stranger ( Deep Purple ), Number of the Beast e Somewhere in Time (
Iron Maiden), Heaven and Hell, Mob Rules ( Black Sabbath ), Among de Living (
Anthrax ), Reign in Blood, South of Heaven, Season in the Abyss ( Slayer ), The
New Order, Practice What You Preach, Souls of Black ( Testament ), Bonded by
Blood, Tempo of the Damned ( Exodus ), Endeless Pain, Coma of Souls, Enemy of
God ( Kreator ) e etc...
São muitos albuns que acho marcantes e fodões.
F.L. - O Metal teve uma década explosiva
que foi os anos 80, principalmente para o Thrash Metal. Como vocês avaliam o atual momento do Metal
no Brasil e fora do país? Estamos no caminho certo ou tem muita mudança pra
acontecer aqui no Brasil em comparação a realidade vivida fora do país?
Marcelo Ledd: acho que é um estilo em
grande crescimento no mundo todo incluindo o Brasil, claro. Vejo algo parecido
com a década de 1980, mas nunca mais terá aquela magia. O caminho que as bandas
estão trilhando , acredito que é esse mesmo, os trabalhos feitos aqui não devem
mais nada aos gringos,porém os produtores precisam melhorar também,isso será
longo e doloroso, acredito que com a ajuda do público nós chegaremos lá.
Anvito: Concordo com o Marcelo e posso
acrescentar que aqui no Brasil ainda falta o público valorizar mais as bandas
nacionais e irem aos shows. Pagamos muito caro pra ver grandes nomes do Metal e
vemos o lugar lotado, quando é um ingresso bem em conta pra assistir uma banda
daqui temos na maioria das vezes pouco público.
F.L. - A banda tocou fora do Brasil qual a
avaliação daquela tour?
Anvito: A Tour Européia foi
sensacional. A maior das dificuldades pra mim foi o frio e o cansaço que era
ficar viajando de uma cidade pra outra. Posso destacar que fiquei impressionado
com a qualidade de equipamento que tocamos, todos os lugares tinham cachê e
vendemos bastante material. O público é bem receptivo, te procura no final do
show, querendo trocar idéia. Foi uma experiência sensacional.
F.L. - Na região Sul do Estado do Rio
algumas bandas ativas na cena decidiram dar um basta e passaram a organizar
seus próprios eventos por discordarem da atitude de alguns produtores. Com isso
desenvolveram uma parceria que envolve bandas e o público. Como vocês avaliam
iniciativas como essa?
Anvito: Eu acho positivo e espero que
isso seja um início pra mudar a mentalidade dos produtores. Não é certo
convidar uma banda pra tocar e pedir pra ela vender ingresso ou não pagar nada,
às vezes nem água dão. Temos que ter um pensamento mais profissional com
relação a isso. As bandas gastam muita grana com equipamento, manutenção,
ensaio e etc.. É trabalho também, não é só diversão. As bandas fazendo seus
próprios eventos, podem assim divulgar com mais afinco sabendo que se houver
retorno financeiro eles vão participar também.
Rossatto: Acho que todas as bandas
deveriam fazer isso, juntar forças e produzirem seus próprios eventos. Acho que
essa interação entre banda e público é muito importante, pois cria novos laços
e desperta o interesse da galera para o que é novo. Isso vai acabar estimulando
cada vez mais a realização de shows com bandas "autorais" do
underground...
F.L. - Talvez não só no Brasil, mas é comum
há muito tempo bandas pagarem pra tocar, ou aquele famoso caso de tocar de
graça tendo como argumento da produção que o retorno/pagamento da banda é a
oportunidade de divulgar o trabalho e ser conhecido no underground. Qual a
opinião de vocês sobre esse nível que chegamos em nosso país da desvalorização
dos músicos e bandas (principalmente autorais)?
Marcelo Ledd: Porra, isso começou por
causa do PUS quando abriu a tour do Anthrax em 93. Isso é um desrespeito ao
profissional, mas infelizmente tem muita banda que já procura os organizadores
para oferecer grana antes de qualquer coisa. Com relação à oportunidade de
tocar de graça, quando a banda esta começando eu concordo, mas depois de uma
carreira e álbuns lançados isso se torna falta de respeito.
Rossatto: Acho que tudo é um sistema de
troca. A partir do momento que entenderem isso, tudo vai mudar. É inaceitável
pagar para tocar, pois quem esta produzindo, estará ganhando encima do trabalho
árduo que a banda faz para poder existir. Sem show não tem banda, sem banda não
tem show!
F.L. - Eventos com banda cover lotam, banda
autoral público razoável, a culpa é de quem - Dos produtores que visam só o
lucro, um problema cultural do público brasileiro que talvez dê mais valor ao
cover do que autoral, ou então a culpa é de bandas que não apresentam um
trabalho de qualidade que desperte interesse dos headbangers?
Anvito: Em minha opinião, isso é uma
mentalidade do público. Infelizmente o público valoriza muito a banda cover e
cada vez mais aparece bandas fazendo isso.
Rossatto: Infelizmente isso é um
problema "cultural" do underground que ao longo da última década e
meia vem se agravando. Por outro lado, o número de bandas "autorais"
vem crescendo ao longo desse período. Acredito que, se os produtores desses
eventos, tiverem um mínimo de visão que seja, e começarem a chamar as bandas
autorais para tocar, essa situação irá mudar. Pois o público precisa se
acostumar a querer ouvir o novo, a perceber que o Heavy Metal feito pelo seu
"vizinho", e que nasce no underground, também é música. E, só para
lembrar, o underground só existe por causa dessas bandas "autorais" e
não por causa das bandas cover que geralmente aparecem nos eventos. O
"poder" de fazer isso acontecer, infelizmente ou não, esta nas mãos
dos produtores.
F.L. - Qual a opinião sobre o atual momento
político do país?
Marcelo Ledd: Manifestações nas ruas:
Não acredito em política sem ideal político. Achei que tem algo de errado por
trás disso, nossos jovens não se politizaram do dia para a noite, muito menos
os mais velhos. mas de qualquer forma a Presidenta tomou uma atitude boa e que
venha o Plebiscito. Reforma política: Já estava na hora, desde que o Lula
assumiu que tem um projeto de reforma rolando pra lá e pra cá. Agora que
precisamos da população nas ruas gritando pelo Plebiscito e as reformas já, mas
infelizmente poucos estão reclamando seus reais direitos. Espero que minha
filha possa desfrutar de um país melhor por causa de tudo o que as pessoas vem
fazendo desde a guerrilha na década de 1970 , até esses protestos de hoje em
dia.
Rossatto: Acho que enquanto o povo usar
a máscara do "V" de vingança, tudo não passará de mera influência
cinematográfica e utópica. Enquanto o povo brasileiro não deixar de usar
"máscaras", e enfrentar face a face nossos inimigos, tudo não passará
de gritos ecoando em uma caverna de "sombras". (Me refiro ao
"Mito da Caverna de Platão"). Realmente a política desse país tem que
mudar, mas não podemos deixar os atuais políticos fazerem isso, pois será o
mesmo que pedir para o ladrão vigiar a sua casa.
F.L. - Toda experiência proporciona
aprendizado, quais as lições aprendidas ao longo dessas duas décadas- no mínimo
já sabem qual caminho não trilhar entre outras questões?
Anvito: Cara, eu acho que ainda
aprendemos muitas coisas até hoje. Adquirimos experiências boas e ruins.
Tomamos volta de produtores, RS, Fomos mal tratados, bem tratados e também
muito bem tratados. Aprendemos a não acreditar em promessas de estrelato, rsrs.
E por ai vai...
F.L. - Esse tempo todo na estrada muita
água já rolou e fatos hilários, grotescos e inusitados acabam rolando e
rendendo muitas risadas, enfim compartilhem algumas dessas histórias com a
gente!
Anvito: Nossa... Já vimos muita coisa
nessa estrada, rsrs. Teve um lance curioso na Alemanha, tocamos em um Pub muito
maneiro, mas o palco era bem baixo e o público ficava quase colado conosco.
Tinha uma maluca bêbada com uma tulipa de cerveja na mão e no meio de uma
música ela balançando a cabeça caiu e quebrou essa tulipa, mas não se cortou e
ficou com aquele troço quebrado na mão. Fiquei com medo de ela tacar aquela
merda em um de nós ai no meio de uma música em uma parte que não tem vocal pedi
pro nosso roadie que tirasse aquilo da mão dela, ele conseguiu com um pouco de
custo e tudo correu normal. rsrs.
F.L. - Agendas para segundo semestre e
planos futuros da banda?
Anvito: Estamos para confirmar alguns
shows em SP. Fiquem ligados na agenda no nosso site: www.hicsos.com.br. Agora
estamos pensando somente em agendar o maior número de shows possíveis a fim de
divulgar bastante nosso novo álbum.
F.L. - Considerações finais e recado para
os nossos leitores:
Marcelo Ledd: Obrigado pela entrevista,
esperamos ver todos os nossos fãs na estrada, peçam o Hicsos em sua cidade e
iremos com prazer e levaremos nossa violência musical!
Anvito: Muito obrigado pela
oportunidade de fazer essa entrevista. Queremos ver todos os fãs batendo cabeça
nos nossos shows. Stay Heavy !!
Rossatto:
Obrigado pela entrevista. Acreditem em seus sonhos! E façam a diferença onde
quer que estejam, busquem o melhor, não só para si, mas para todos ao seu
redor. E quando tudo estiver mal, coloque um CD do Hicsos para tocar no último
volume, que depois de algumas músicas, tudo vai estar melhor. rs Vida Longa e
Próspera!
Obrigado Hicsos pela entrevista, O Over Metal está a disposição.
Até a próxima.